Vejo um pássaro pela janela, enquanto lubrifico pequenas
engrenagens de pequenos relógios...
Um pássaro que me deixa tão triste...
Ele está sempre lá, fora da minha janela...
Enquanto lubrifico pequenas engrenagens de pequenos relógios
para suas máquinas não pararem, ele está ali...
Tentando mostrar-me algo...
Já o tentei espantar, mas de nada adiantou...
Já atirei pedras, gritei: Saia daqui, não vês que assim não
consigo concentrar-me em meu trabalho...
Mas ele se mantém
ali, fora da minha janela...
Às vezes parece que ele quer entrar para brincar...
Mas eu nunca abro a janela...
Às vezes quando acordo penso que foi tudo um sonho, então
quando chego a minha oficina e abro as persianas lá está ele...
Novamente fico triste...
Eu sinto um pouco de mim naquele pássaro...
Seria solitário se ele não aparecesse...
Mas mesmo assim fico triste...
Tento expulsar-lo sempre...
Pois possuo certa inveja, sim inveja...
Ele me faz lembrar que sou homem que conserta máquinas,
portanto também sou máquina...
Ele me faz querer sair correndo de minha pequena oficina, me
atirar de um penhasco, abrir as asas e planar... sentir o vento em minhas
orelhas...
Fecho os olhos e fico
imaginando por alguns instantes...
Rapidamente volto a mim e grito: Saia daí, não vês que me
atrapalha, assim não consigo concentrar-me em meu trabalho...