Estava sentado no sofá da sala de estar degustando um cigarro e um café amargo, quando o telefone toca, deixo ficar tocando, levanto lentamente passo as mãos no cabelo, dou uma tragada intensa, fecho os olhos e solto a fumaça... Vou até o telefone e atendo.
-Alô
-Oi “cara”, pensei que não estava já estava desistindo
-E por que não desistiu?
-Calma ai, tu andas muito estranho ultimamente...
-Estranho?
-Sim estranho...
Um breve silêncio e logo penso, o que eu teria de estranho...
-Eu não.
-Tá bom “cara”, o que eu queria falar contigo na verdade é sobre a noite passada
-O quem tem a noite passada?
-Tu estavas muito quieto, aconteceu algo?
-Não.
-Eu te conheço há muito tempo, o bastante para saber que tem algo errado...
-Não tem nada de errado. Não tenho mais o direito de ficar na minha?
-Claro que tem, eu só achei...
-Achou?
-É que tu andavas meio cabisbaixo depois que tu conversaste com aquela guria.
-Era sobre isso então, relaxa...
Pego o maço de cigarros no bolso da calça, puxo um levo aos beiços, mas não acendo
-Eu estou tranqüilo quanto a este assunto...
-Tranqüilo?
-Sim, bastante tranqüilo.
-Pensei que tinha ficado mal, ficaste muito pensativo e quieto depois do ocorrido...
-Pensativo... Sempre ficamos pensativos quando as coisas não ocorrem como queremos, eu sempre fico assim com tudo que ocorre, tu que nunca notou antes...
-Desculpa então...
- Espero não estar te incomodando.
-Não, não está...
-Queres sair?
-Sair?
-Sim, ir para algum barzinho, tomar uma vodca e papear...
-Isso seria bom... Só não quero ir para um local muito movimentado.
-Por quê?
-Quero ficar num lugar tranqüilo, onde eu possa pensar fumar e degustar uma boa vodca.
-Pois então que assim seja. Logo mais eu passo ai na tua casa para sairmos, pode ser?
-Pode sim.
-Até logo então “cara”.
-Até mais...
Desligo o telefone, volto para o sofá, o café já está frio, o cinzeiro cheio de pontas de cigarro, resolvo levantar e ir tomar um banho, vejo no espelho minha cara de quem não tinha uma noite de sono decente à dias, com a barba por fazer e escabelado penso...
Por que eu aceitei este maldito convite?