quarta-feira, 16 de março de 2011

O dono da bola.


Descalço, descalço eu caminho pelo gramado
Sinto a grama molhada do sereno
Roço os dedos do pé um contra o outro
Sinto o cheiro de terra e grama molhada
E a paz de estar em paz comigo
Lembro-me da infância jogando bola no terreno baldio perto da minha casa
O qual o dono da bola ditava as regras
Lembro-me também que ele só tinha amigos por que era o dono da bola
Eu tinha amigos por que era moleque e estava sempre brincando na rua com todos
Até mesmo os guris mais velhos da rua de baixo se davam bem comigo
Era divertido naquela época quando eu não entendia nada da vida
Só hoje depois de homem feito
Sei qual a tristeza de ser “o dono da bola.”

terça-feira, 15 de março de 2011

Vôo raso...

Meus olhos se umedecem
Minh’alma fica gris
Não sinto mais meus pés tocando o chão
O vento passa feroz por dentre meus cabelos
Somente mais alguns segundos
Meu corpo está leve e minha mente livre de angustias
Minhas tristezas, minhas magoas, meu egoísmo
Tudo ficara para traz
Perdido dentre os destroços da memória
Agora tudo faz sentido
A solidão não era um fardo
Falta pouco
Agora tudo faz sentido
Um impulso
Um breve sorriso
E tudo se silencia...

terça-feira, 8 de março de 2011

O convite.



Estava sentado no sofá da sala de estar degustando um cigarro e um café amargo, quando o telefone toca, deixo ficar tocando, levanto lentamente passo as mãos no cabelo, dou uma tragada intensa, fecho os olhos e solto a fumaça... Vou até o telefone e atendo.
-Alô
-Oi “cara”, pensei que não estava já estava desistindo
-E por que não desistiu?
-Calma ai, tu andas muito estranho ultimamente...
-Estranho?
-Sim estranho...
Um breve silêncio e logo penso, o que eu teria de estranho...
-Eu não.
-Tá bom “cara”, o que eu queria falar contigo na verdade é sobre a noite passada
-O quem tem a noite passada?
-Tu estavas muito quieto, aconteceu algo?
-Não.
-Eu te conheço há muito tempo, o bastante para saber que tem algo errado...
-Não tem nada de errado. Não tenho mais o direito de ficar na minha?
-Claro que tem, eu só achei...
-Achou?
-É que tu andavas meio cabisbaixo depois que tu conversaste com aquela guria.
-Era sobre isso então, relaxa...
Pego o maço de cigarros no bolso da calça, puxo um levo aos beiços, mas não acendo
-Eu estou tranqüilo quanto a este assunto...
-Tranqüilo?
-Sim, bastante tranqüilo.
-Pensei que tinha ficado mal, ficaste muito pensativo e quieto depois do ocorrido...
-Pensativo... Sempre ficamos pensativos quando as coisas não ocorrem como queremos, eu sempre fico assim com tudo que ocorre, tu que nunca notou antes...
-Desculpa então...
- Espero não estar te incomodando.
-Não, não está...
-Queres sair?
-Sair?
-Sim, ir para algum barzinho, tomar uma vodca e papear...
-Isso seria bom... Só não quero ir para um local muito movimentado.
-Por quê?
-Quero ficar num lugar tranqüilo, onde eu possa pensar fumar e degustar uma boa vodca.
-Pois então que assim seja. Logo mais eu passo ai na tua casa para sairmos, pode ser?
-Pode sim.
-Até logo então “cara”.
-Até mais...
Desligo o telefone, volto para o sofá, o café já está frio, o cinzeiro cheio de pontas de cigarro, resolvo levantar e ir tomar um banho, vejo no espelho minha cara de quem não tinha uma noite de sono decente à dias, com a barba por fazer e escabelado penso...
Por que eu aceitei este maldito convite?

Sobriedade.



Ébrio vagabundo que samba na lomba
Sabe amar nos acordes do violão
Malandro das ruas, boêmio e amante
Enrosca-se no cangote das morenas
Faz-lhes caricias e promessas
Com seu olhar sereno
E um sorriso disfarçado
Tenta mostrar as pessoas que é feliz
Mas a realidade é outra
É clara, sóbria e vazia...