sexta-feira, 13 de julho de 2012

Soluços, ebriedade e frio.



O meu coração...
Grita desesperado todas as noites por liberdade
Ora sussurra...
Ora murmura...
Não me deixe aqui tão só...
Trancado em um lugar onde só existe frio...
Seu peito não abriga mais calor... nem mesmo para si...
Meu coração mendiga calor...
Qualquer migalha de amor... até mesmo requentado...
À noite eu não suporto seus gritos...
Embriago-o com conhaque para ver se o distraio...
Já ébrio ele se acalma e descansa...
Soluça lamentações
Eu o mando se calar...
Mas como o fazer calar...
Se eu também preciso de calor...
O inverno é rigoroso e a brisa invade meu quarto pelas frestas da janela...
Está tão frio que mal consigo dormir...
Você sente frio também?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Café com conhaque.



Nada mais que um maço de cigarros em cima da mesa, um café com conhaque em uma xícara quebrada e um pouco de lamentações sobre o papel...
Assim vejo minhas noites sendo transformadas em delírios...
Os delírios do cotidiano...
Garrafas quebradas no canto do bar, algumas garotas dançam friccionado seus corpos cobertos pelo manto da sensualidade...
Eu observo isso pela minha janela todos os fins de semana...
Já não sinto mais tesão... não, eu ainda sinto tesão pelas garotas se esfregando, mas não sinto tesão por sair deste quarto...
Noites a fio enlouquecendo dentre quatro paredes...
Sem vontade alguma de sair para ver o mundo lá fora...
Sem esperança alguma de que algum dia as pessoas valham a pena.

Inadequável.



Não chores
Não te mostre fraco assim
Morda os beiços e segure n’alma
Não deixe seus olhos o trair transbordando em sentimentos
Fique firme...
Aja como um ser humano moderno...
Não sinta.
Não apaixone-se, é proibido...
No mundo moderno tudo é proibido...
O que vem d’alma é proibido.
E quem foi que fez isso?
Quem proibiu?
Ora bolas, nós mesmos...
É mais fácil viver assim, mais suportável talvez...
Olhamos em linha reta...
Acaso olhares para o lado será tido como uma aberração...
Se não segues o padrão logo serás mal tratado...

O pássaro e o relojoeiro.



Vejo um pássaro pela janela, enquanto lubrifico pequenas engrenagens de pequenos relógios...
Um pássaro que me deixa tão triste...
Ele está sempre lá, fora da minha janela...
Enquanto lubrifico pequenas engrenagens de pequenos relógios para suas máquinas não pararem, ele está ali...
Tentando mostrar-me algo...
Já o tentei espantar, mas de nada adiantou...
Já atirei pedras, gritei: Saia daqui, não vês que assim não consigo concentrar-me em meu trabalho...
 Mas ele se mantém ali, fora da minha janela...
Às vezes parece que ele quer entrar para brincar...
Mas eu nunca abro a janela...
Às vezes quando acordo penso que foi tudo um sonho, então quando chego a minha oficina e abro as persianas lá está ele...
Novamente fico triste...
Eu sinto um pouco de mim naquele pássaro...
Seria solitário se ele não aparecesse...
Mas mesmo assim fico triste...
Tento expulsar-lo sempre...
Pois possuo certa inveja, sim inveja...
Ele me faz lembrar que sou homem que conserta máquinas, portanto também sou máquina...
Ele me faz querer sair correndo de minha pequena oficina, me atirar de um penhasco, abrir as asas e planar... sentir o vento em minhas orelhas...
Fecho  os olhos e fico imaginando por alguns instantes...
Rapidamente volto a mim e grito: Saia daí, não vês que me atrapalha, assim não consigo concentrar-me em meu trabalho...